A epilepsia é uma doença neurológica crônica que compromete a qualidade de vida de cerca de 50 milhões de pessoas no mundo1 e cerca de 2,5 milhões no Brasil.2 De 20 a 30% desses casos não têm controle satisfatório das crises epiléticas, mesmo com o uso de modernos fármacos antiepilépticos.3 Esses casos são conhecidos como epilepsia refratária.
Epilepsia refratária ou de difícil controle medicamentoso ocorre quando há a persistência na frequência das crises epilépticas mesmo após o uso de pelo menos duas medicações devidamente indicadas para o tipo de epilepsia.4
Após o diagnóstico, além de sugerir novas opções de medicação, o médico orienta o paciente sobre a possibilidade de associar um tratamento dietético ao medicamentoso. Dessa forma, observou-se o uso da dieta cetogênica como alternativa terapêutica para casos de epilepsia farmacorresistente e que não são candidatos a tratamento cirúrgico. 3
Então, que tal saber um pouco mais sobre a relação entre dieta cetogênica e epilepsia?
A dieta cetogênica "clássica" é uma alimentação especial com alto teor de gordura e baixos níveis de carboidratos. É mais rigorosa do que a dieta Atkins modificada, exigindo contagem cuidadosa de calorias, líquidos e proteínas. Os alimentos são pesados e medidos. É prescrito por um médico e cuidadosamente monitorado por um nutricionista. Geralmente é usado em crianças com convulsões que não respondem aos medicamentos.5
Para pessoas com epilepsia, a dieta cetogênica é uma opção para controlar e/ou reduzir a frequência das crises epilépticas, conforme orientação nutricional. O nutricionista, por meio de exames e da análise nutricional, é responsável por desenvolver um cardápio personalizado e acompanhar a evolução dietética e clínica do paciente.4
Esse cardápio personalizado é desenvolvido substituindo-se os alimentos fonte de carboidrato (macarrão, pão, batata, arroz etc.) por fontes de gordura (carnes, creme de leite, óleos vegetais etc.), a fim de fornecer energia e principalmente reduzir a frequência das crises epilépticas e melhorar as funções mentais.
Os grupos de alimentos permitidos abrangem: frutas, legumes, verduras, carnes, queijos, ovos e oleaginosas (castanhas, macadâmia, nozes etc.). Cereais (arroz, trigo, aveia, centeio), tubérculos (batata, abóbora, inhame) e leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha) serão consumidos em menor proporção. A hidratação diária deve ser mantida, não havendo necessidade de restringi-la durante o tratamento. O nutricionista irá indicar o volume ideal conforme faixa etária do paciente.4
Existem duas formas de iniciar o tratamento: ambulatorial e com internação. Embora ambas proporcionem o mesmo resultado a longo prazo, a forma ambulatorial é mais frequentemente indicada e utilizada, sendo introduzida gradativamente nas consultas, respeitando a adaptação do organismo de cada paciente. Já a internação é mais indicada para os pacientes que têm alguma complicação decorrente da doença e necessitam iniciar o tratamento com urgência, como por exemplo, estado de mal epiléptico. Neste caso, o paciente é submetido a jejum de 36 a 48 horas, mantendo hidratação adequada. Após este período, inicia-se a dieta na fração mais restritiva.
Mas, funciona?
Estudos demonstraram que a dieta cetogênica ajuda a reduzir ou prevenir convulsões em crianças, cujas convulsões não podem ser controladas por medicamentos. Mais da metade das crianças que seguem a dieta têm pelo menos uma redução de 50% no número de convulsões. Algumas crianças, geralmente 10-15%, até ficam livres de convulsões.5
O mecanismo pelo qual a dieta cetogênica leva à redução das crises epilépticas sugere que a oferta excessiva de gorduras é capaz de manter o mecanismo metabólico de inanição, pois nesta situação, este macronutriente é utilizado como fonte energética no lugar da gordura estocada, criando e mantendo um estado de cetose. O efeito sedativo dos corpos cetônicos (acetoacetato e b-hidroxibutirato), a concentração destes no plasma, o grau de acidose, a desidratação parcial, a mudança na concentração lipídica e a adaptação metabólica energética do cérebro, decorrentes desta cetose, seriam os principais fatores envolvidos e responsáveis pelo controle das crises.6
As crises epilépticas não costumam retornar após o término do tratamento. Pode-se considerar um resultado satisfatório aquele que proporciona redução de aproximadamente 50% no número de crises. Ou seja, os pacientes que apresentarem redução das crises durante a dieta cetogênica podem ter modificações permanentes no metabolismo cerebral após o seu término.4
Importante:4
Fique por dentro
Referências
1 Jornal da USP – Epilepsia é um problema de saúde pública. Website acessado em maio 2022. “Epilepsia é um problema de saúde pública” – Jornal da USP
2 Hospital Moinhos de Vento – Epilepsia: limites e avanços. Website acessado em maio 2022. Epilepsia: limites e avanços | Hospital Moinhos de Vento
3 Universidade Federal de Santa Catarina – Repositório Institucional – Efeito da dieta cetogênica nos marcadores hormonais em indivíduos com epilepsia farmacorresistente. Website acessado em maio 2022. Efeito da dieta cetogênica nos marcadores hormonais em indivíduos com epilepsia farmacorresistente (ufsc.br)
4 Associação Brasileira de Epilepsia – Dieta cetogênica. Website acessado em maio 2022. Dieta cetogênica - ABE | Associação Brasileira de Epilepsia (epilepsiabrasil.org.br)
5 Epilepsy Foundation – Dieta cetogênica. Website acessado em maio 2022. Ketogenic Diet for Seizures | Epilepsy Foundation
6 Scielo Brasil - Dieta cetogênica no tratamento de epilepsias farmacorresistentes. Website acessado em maio 2022. SciELO - Brasil - Dieta cetogênica no tratamento de epilepsias farmacorresistentes Dieta cetogênica no tratamento de epilepsias farmacorresistentes
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Junho/2022
BRZ2237791
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