Um dos pais de HeartMateTM 3 quer uma família maior

Está feliz com os mais de 20.000 implantes, mas sabe que pode ajudar mais pessoas com insuficiência cardíaca.

Coração Saudável|Mar.15, 2024

Conviva um tempo com Kevin Bourque e as semelhanças com alguém da sua família claramente começam a aparecer.

Sua energia contínua — ele não tem um botão de desligar que seja de nosso conhecimento — ligado nos 220 volts enquanto nos conta os detalhes, sem parar. Ele apenas continua bombeando-os para fora. Animado, seu espírito tem um verdadeiro magnetismo. Ele está quase levitando.

Isso ocorre quando ele começa a falar sobre sua criação.

Ele não puxa a carteira para mostrar um monte de fotos —em parte porque elas estão na sua sala e logo ele começa a nos mostrar — embora não seria de surpreender se ele as tivesse na carteira também...

Aqui está nosso primeiro. Um meninão.

Aqui está nosso segundo. Menor, mas FORTE.

E aqui está nosso terceiro... até agora. Um verdadeiro pequenino poderoso. E tão inteligente!

Como um dos pais da linha de dispositivos de assistência ventricular esquerda (DAVE) HeartMateTM — também conhecida como bombas cardíacas — Bourque, em seu papel na supervisão de pesquisa e tecnologia em suporte circulatório mecânico, tem dado o melhor de si e de sua equipe em cada nova geração.

É por isso que eles funcionam por mais tempo, bombeiam mais, se desgastam menos e, sim, levitam com a ajuda de ímãs. E quando conseguimos fazer o Bourque parar — vamos ser honestos, só diminuindo um pouco seu ritmo antes que ele comece a acelerar novamente para reconhecer o marco de mais de 20 mil implantes de HeartMateTM 3. Temos muito a aprender com o homem que acompanhou desde a concepção da tecnologia HeartMate.

As sementes plantadas por Bourque

Kevin Bourque cresceu em Salem, Massachusetts e sonhava em trabalhar na área de biomedicina.

Deixou a faculdade e o mestrado em engenharia mecânica, "do qual ele definitivamente não se arrepende". E então chegou finalmente a hora de começar a trabalhar.

"Meu primeiro emprego fora da universidade, trabalhei com ressonância magnética de diagnóstico em uma pequena empresa que acabou falindo", disse Bourque. "Pouco antes de desistir da área, consegui este emprego em 1997 e estou comemorando meu 25º aniversário aqui. Comecei na Thermocardio Systems, que foi adquirida pela Thoratec, depois pela St. Jude Medical e por fim pela Abbott."

E ele comenta: "Ainda tenho meu primeiro grampeador."

Os nomes das empresas mudaram, mas o trabalho permaneceu essencialmente o mesmo: continuar desenvolvendo e aperfeiçoando dispositivos para ajudar os corações enfraquecidos a bombear o sangue rico em oxigênio que seus corpos tanto precisam.

Grandes ideias até chegar ao HeartMateTM 3

Nos reunimos para falar do HeartMateTM 3: e se você nunca ouviu sobre ele, em uma breve descrição, seria algo como: nosso LVAD mais recente funciona aproveitando a energia de ímãs que levitam o rotor da bomba com alta precisão, reduzindo assim o atrito entre as células sanguíneas, com um design que minimiza a estase sanguínea (lentificação do fluxo do sangue) e reduz o risco de trombose, AVC e hemorragia. Então é aí que esta história começa, tipo um filme de Tarantino que começa pelo fim antes do início.

Acompanhe Bourque aqui.

"Queremos trabalhar em uma versão mag lev, que significa magneticamente levitada, de uma bomba sanguínea. Então, como começamos? Naquele momento, realmente tentamos algo que não funcionou. Mas também recebemos uma carta da Suíça que — para encurtar a história, nossos parceiros, que por fim se tornaram a Abbott em Zurique (e agora fazem parte do nosso grupo), inventaram a levitação magnética, e ainda fabricaram nossos motores para HeartMateTM 3 — estava iniciando uma colaboração conosco. Licenciamos a tecnologia e trabalhamos no que se tornaria o HeartMateTM 3. Mas, naqueles dias, era... vou te mostrar um."

Hora de trazer um dos filhos (um protótipo do HeartMate).

"Nós tínhamos uma versão maior. Este é o original, o que eu desenhei."

E, então, agora conhecemos um dos membros da família de Bombas Cardíacas.

"Nós começamos no final da década de 90 com o que se tornaria o HeartMateTM 3 para concorrer com o HeartMateTM XVE (que não está mais disponível no mercado). Mas nesse meio tempo, HeartMateTM II começou a se sair muito bem e seus estudos clínicos foram bem-sucedidos.

Então, em 2006, dissemos, “vamos parar e fazer exatamente este modelo (mostrando o design original, maior de HeartMateTM 3), mas vamos torná-lo menor”. Então simplesmente fizemos uma versão de diâmetro menor. E este é o HeartMateTM 3 de hoje, uma versão mini deste outro.

Entendeu? Basicamente são três gerações de HeartMateTM que abrangem um quarto de século em poucos segundos.

Com suas bombas cardíacas nas mãos, Bourque continua. 

Todo o trabalho em uma estrutura menor

Do primeiro HeartMateTM até o HeartMateTM 3 atual, Bourque estima que tenha cerca de metade a dois terços do volume, em uma escala reduzida e que ampliou as possibilidades para implantes em pessoas que era simplesmente impossível com o design original.

"O design original tinha exatamente o tamanho de um disco de hóquei," disse Bourque. "Sou um grande fã de hóquei."

Mas eles precisavam de algo significativamente menor do que um disco de hóquei. Então foi isso que projetaram, sendo uma coisa muito boa, mas não significa que o modelo menor tenha desempenho reduzido. Nem um pouco.

"Queremos bombear até 10 litros de sangue por minuto de fluxo devido às necessidades do corpo — mesmo uma pessoa grande precisaria de cerca de 5 a 6 litros por minuto — e queríamos algum excedente. Então, em vez de pensarmos: “vamos fazer com capacidade para 5 litros por minuto”. Pensamos: “vamos fazer para 10 litros”. Conseguimos chegar nesta marca no primeiro modelo de HeartMateTM e depois seguimos para adaptar para o outro (HeartMateTM 3). E foi esse o acordo."

Um acordo que ele está decidido a manter, incluindo a parte de manter passagens relativamente largas na bomba para reduzir o atrito entre as células sanguíneas, Bourque se recusa a usar o sangue como amortecedor, como algumas outras bombas fazem. "Eles dizem, ‘você tem este mag lev, mas por que você não tem um suporte hidrodinâmico como reserva, caso ele falhe? Você apenas diminuiu o espaço, pois mesmo se o mag lev falhar, ele vai planar na camada de sangue’.

"Isso é como jogar o bebê fora junto com a água do banho."

E Bourque é um cara que ama seus bebês. Mas como qualquer bom pai, sabe que eles não seguirão o mesmo caminho. E isso significou — e ainda significa — manter a mente aberta para as possibilidades conforme elas se apresentam.

"Algumas coisas importantes. Primeiro que ao girar o rotor de cabeça para baixo, podemos obter um pouco de espaço e, segundo, sobre os componentes eletrônicos em si. Os chips são menores, então encolhemos por conta disso," disse Bourque. "Mas então, quando ficamos tão pequenos, agora não precisávamos mais implantá-lo aqui embaixo (no abdômen), e podíamos implantar direto no tórax. E isso eliminou todo esse processo de criar um bolso para a bomba e, então, a necessidade de uma conexão entre o coração e a bomba. Apenas colocamos esta parte (a cânula de entrada de fluxo) direto no coração. E esta melhoria também o tornou menor."

Esse design refinado incluiu a remoção de redundâncias, uma etapa tão complicada pois podia comprometer sua segurança. Ninguém quer que sua bomba cardíaca simplesmente pare de funcionar.

Os momentos "A-HÁ!"

Quando Bourque começa a recontar sobre os avanços que abriram os caminhos que ele e sua equipe não esperavam, algumas soluções tão brilhantes e simples que agora se tornam tão aparentes para nós.

"O sistema mag lev estaria no mesmo plano que o fluxo de sangue e este fluxo teria que subir e sair, então eu pensei — e eu sou o engenheiro mecânico que está criando o caminho do fluxo de sangue e pensei, 'isto é insano, não podemos fazer isso' — e se vocês dobrassem essas peças de fluxo para baixo e tirassem o motor dessa parte, para que possa ter o fluxo em uma parte e o motor na parte inferior?”

"E eles disseram, 'não podemos fazer isso; será muito menos eficiente.'"

Bourque, não satisfeito, mas não preso pelo orgulho, fez o que tinha que fazer.

Mesmo se isso incluísse alguma súplica amigável.

"Você pode, por favor, ao menos tentar?

"E eles voltaram e disseram: 'oh, acabamos de descobrir que na verdade é um pouco mais eficiente do que antes, pois o cobre não está muito distante daqui, e estando aqui embaixo, a gente realmente usa menos cobre, portanto há menos perdas, tornando-o um pouco mais eficiente."

Foi uma experiência semelhante quando Bourque especificou que o rotor fosse construído em titânio. Outros engenheiros ficaram preocupados que os ímãs e o rotor não pudessem se comunicar adequadamente através da liga. Mas, como uma boa família, eles continuavam a ter uma relação amigável dentro do time de HeartMateTM 3. E, o melhor de tudo é que o rotor não foi produzido em plástico, uma opção considerada no lugar do titânio.

"Eu não quero plástico ali por 10 anos ou mais", disse Bourque. "Eu quero titânio."

Bourque resume as conversas:

Não dá para fazer.

Você pode tentar?

Não vai funcionar.

Por favor, por favor mesmo, você pode ao menos tentar?

Então tentamos e funcionou muito bem!

Ele vai nos mostrando as partes internas de um HeartMateTM 3 que vão se tornando conhecidas. A demonstração, agora, se volta para o rotor que ele virou de cabeça para baixo.

"Na parte inferior, havia um ponto de estagnação com que sempre nos preocupamos por conta da trombose (coágulo sanguíneo, que pode aumentar o risco de AVC)," disse Bourque. "Se eu pudesse virar o rotor para colocar o impulsor na parte inferior, então eu não terei mais o ponto de estagnação, porque o jato de entrada de fluxo passará diretamente por aqui, direto por esse ponto de estagnação. Isso elimina nosso problema de recirculação."

O único problema: "Vocês têm que colocar um furo deste tamanho no meio de seu motor."

Ou seja, um buraco no motor.

"Então eles fizeram o furo."

Depois de mais algum pedido especial?

"Eu não precisei implorar por este", ele disse. "Mas eu confesso que me senti um pouco mal pedindo que eles fizessem um furo em seu lindo motor."

Ele realmente não se sentiu tão mal depois, pois funcionou como ele e eles esperavam. Veja os resultados.

"Obtivemos — felizmente — redução na taxa de trombose melhor do que esperado, chegando a quase zero. Temos 1% de trombose. Mas é absorvida, não é a trombose formada na bomba — não podemos impedir que coágulos de outros lugares passem pela bomba — então, foi melhor do que o esperado."

Então é bom. Mas poderia ser ainda melhor.

"Poderia ser assim todos os anos."

Você sabe o que faz com que a cabeça de Kevin Bourque gire a 9.000 rpm, como um de seus rotores?

Não pergunte a ele como HeartMateTM 3 faz bem o seu trabalho. Mas pergunte o quão bem HeartMateTM 3 pode fazer por muito mais pessoas.

Vinte mil? Para Bourque, isso é bom, mas nem perto de ser o suficiente. É um número imenso e minúsculo ao mesmo tempo, uma realidade frustrantemente atrativa que, em sua mente, não precisa permanecer como está.

"Estou recebendo como uma boa notícia que nos EUA foram de 3.000 para quase 3.600 transplantes cardíacos por ano e os pacientes que mais se beneficiam do transplante estão sendo transplantados. É o que eu quero."

Mas não é tudo o que ele quer. Ele quer mais. Pois ele também sabe que simplesmente não há — e provavelmente nunca haverá — corações suficientes para todas as pessoas que precisam.

"O problema é que o número de pacientes que precisam de um transplante ou um DAVE é — apenas nos EUA — de 60 a 80 mil pessoas por ano. Isso demonstra que o número de transplantes é extremamente pequeno comparado ao número de pessoas que precisam de suporte circulatório.

"Existem 60.000 pacientes com insuficiência cardíaca que poderiam se beneficiar de um DAVE. Então por que estamos fazendo 4.000 deles? Eu não posso explicar. E, a propósito, é por isso que os EUA e o resto do mundo estão ainda trabalhando neste sentido. É um pouco difícil de entender."

Mas ele certamente entende parte disso.

"Muitas vezes é como ele é apresentado ao paciente", reconhece Bourque. "Se o médico diz: 'ei, olhe, estas são suas opções: você pode fazer um transplante e se você tiver sorte, você consegue um órgão... ou eu poderia te dar uma destas coisas”.

O desdém simulado é perceptível.

"Você não ia querer algo assim. Não importa o que seja uma destas coisas."

Agora ele está realmente murmurando.

"Se você ouve um médico te dizer, 'você tem câncer', a maioria das pessoas no mundo dirá para extirpá-lo, faça o que tiver que fazer," disse Bourque. “Quando um médico diz que você tem insuficiência cardíaca, dizem, ‘hum, eu tenho que tomar uma pílula todos os dias?' Eles não percebem que significa que você está morrendo por uma doença progressiva e que não há cura. Não é pensado dessa forma."

E assim, quando ele pensa nos cerca de 20.000 ou mais implantes até o momento, "Poderia ser assim todos os anos."

E ele gostaria que fosse, além de ampliar e salvar mais dessas 60.000 vidas, tornando a família HeartMateTM 3 muito maior do que é no momento.

Outro ramo da árvore genealógica

Sendo o homem de família que é, Bourque e sua equipe estão ocupados trabalhando na próxima geração.

Claro, o pulso artificial poderia ser mais inteligente. Também existem conceitos para FILVAS (sistema de assistência ventricular esquerda totalmente implantado), no qual a bomba e sua fonte de energia ficariam totalmente dentro do corpo. Como pode imaginar, isto é incrivelmente complexo.

E o que quer que seja lançado, precisará ser uma máquina que nunca pare, como este pai do HeartMateTM.

Enfim, este foi todo o tempo que podemos passar com Kevin Bourque.

Esta pausa, diminuindo seu ritmo apenas um pouco, excedeu o tempo combinado.

Ele precisa voltar a correr com sua equipe, aumentando sua família de bombas cardíacas. As novas ideias continuarão a fluir, sem parar. Eles continuarão bombeando-as para fora. Eles estão animados. E ele está tão animado que, na verdade, ele está praticamente até levitando.

Para a melhoria de dezenas de milhares de vidas, isso é algo muito bom.

E conte com isso: ele vai continuar trabalhando para torná-lo uma tecnologia cada vez melhor.

Este texto foi originalmente publicado em 09/01/2023, atualizado em 15/03/2024.

IMPORTANT SAFETY INFORMATION

Heartmate 3 - Sistema de Assistência Ventricular Esquerda – Registro ANVISA nº 10332340428

HEARTMATE II – Sistema de Assistência ao Ventrículo Esquerdo – Registro ANVISA nº 10332340448

™ Indica uma marca comercial do grupo de empresas Abbott.

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