Sintomas que a gente nem imagina

Os hormônios da tireoide – T3 e T4 – mexem com o corpo inteiro, mas cada indivíduo responde de um jeito. 

Se os hormônios T3 e T4 mexem com o corpo inteiro, da unha do pé ao fio de cabelo no alto da cabeça, o fato é que cada indivíduo responde de um jeito. Ou seja, não é todo mundo que sente tudo ao mesmo tempo.

Além disso, cada órgão reage à sua maneira. "Como pano de fundo, podemos dizer que há uma lentificação do funcionamento de todos eles. Uns se ressentem mais disso e outros, menos", diz a professora Carolina Ferraz, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo que, com ouvidos experientes, não raro acha pista até no jeito de falar do paciente. "Ele às vezes soa mais vagaroso", explica. "Mas, como em muitos aspectos no hipotireoidismo, não é um sinal tão gritante."

A seguir, saiba quais são os sintomas mais comuns e como eles acontecem.

Cansaço sem fim e sonolência

Não existe uma explicação única, mas uma delas é que os hormônios da tireoide regulam a velocidade com que as células consomem oxigênio e nutrientes. Se fazem isso em ritmo de tartaruga, o cérebro é o primeiro a se ressentir da energia chegando aos trancos e barrancos. Isso desestabiliza, inclusive, as áreas responsáveis pelo humor, que ficam instáveis.

Irritabilidade e depressão

Os hormônios tireoidianos, para completar, agem diretamente no sistema nervoso central. Se chegam aos montes, nos casos de hipertireoidismo, disparam a ansiedade e a insônia. Já no hipotireoidismo, sua falta leva a quadros depressivos e à irritação, com direito a explosões que parecem acontecer do nada, confundidas com transtornos mentais. "A investigação do hipotireoidismo deve fazer parte da rotina dos psiquiatras", diz a Dra. Carolina. "Não adianta usar antidepressivos enquanto a disponibilidade de hormônio tireoidiano continua lá embaixo. A pessoa, então, talvez nem responda tão bem ao tratamento."

Redução dos batimentos cardíacos

"Quem tem hipotireoidismo corre e é como se o coração não acompanhasse o ritmo das pernas, porque continua com batimentos relativamente baixos para o esforço", tenta descrever a Dra. Carolina. "Dificilmente ele atinge mais do que 120 ou 130 batimentos por minuto durante o exercício." A entrega de oxigênio pelo sangue, então, desacelera e essa é outra razão para a fadiga e para a dificuldade para praticar qualquer atividade física. Pessoas com hipotireoidismo têm naturalmente mais preguiça para se movimentarem, notam os médicos.

Inchaço, especialmente nos membros inferiores

Ele tem a ver com a circulação lenta, dificultando ainda mais o retorno do sangue que desceu pelas pernas até os pés. "Além disso, o corpo costuma acumular mais líquido, porque a pessoa com hipotireoidismo transpira menos", informa a Dra. Carolina.

Sensação constante de frio

Diminuir o metabolismo é sinônimo de reduzir a produção de calor pelas células, a chamada termogênese. O sistema nervoso central, então, percebe a situação e dispara a sensação de frio, como quem avisa que é preciso fazer alguma coisa para garantir aqueles 36 graus Celsius que são a temperatura ideal para os órgãos funcionarem direitinho. O fato de o corpo produzir menos calor justifica a produção tímida de suor que, afinal das contas, serviria justamente para resfriá-lo, o que não é necessário nessa condição.

Alterações na pressão arterial

Um aviso: tanto o hiper quanto o hipotireoidismo sempre mexem com a pressão sanguínea. No caso deste último, há um aumento da resistência dos vasos, em uma tentativa de compensar os batimentos reduzidos, para ninguém cair de maduro na rua. Com isso, a pressão diastólica - aquela que tem o menor valor - sobe.

Um ligeiro aumento de peso

Nada de culpar a tireoide pela obesidade! A diminuição do metabolismo provocada pelo hipotireoidismo não costuma fazer alguém engordar mais do que poucos quilos. Até porque há muitos outros hormônios envolvidos na queima e na reserva de energia pelo corpo. Mas, sim, alguns quilos a mais ao lado de outros sintomas ou fatores ajudam a levantar a suspeita.

Aumento do colesterol LDL na circulação

LDL é a sigla em inglês para lipoproteínas de baixa densidade, popularmente conhecidas pelo rótulo colesterol ruim. E o fato é que esse colesterol de má fama precisa de receptores específicos para entrar nas células. Ocorre que a síntese dessa espécie de fechadura na membrana celular depende dos hormônios da tireoide. Se eles caem, há menos receptores. Logo, menos portas de entrada para o colesterol ruim. E, sem conseguir adentrar nos tecidos, ele fica dando sopa no sangue.

Aumento da glicose sanguínea também

Aqui, o fenômeno não tem a ver com a famosa resistência à insulina, o hormônio produzido pelo pâncreas que bota esse açúcar para dentro das células. "Os hormônios T3 e T4 também participam da metabolização dos carboidratos e da incorporação da glicose pelas células", informa a Dra. Carolina. "Por isso, em algumas pessoas podemos observar um leve aumento da glicemia."

Pele seca, unhas quebradiças, cabelos fracos

A dupla T3 e T4 regula a renovação da pele e de seus chamados anexos, que são as unhas e os cabelos. Por isso, sua falta leva à queda dos fios, ao ressecamento da pele e à fragilidade da unha, que pode até apresentar algumas deformações.

Alterações no ciclo menstrual e dificuldade para engravidar

Bem no meio do cérebro, uma pequena glândula, a hipófise, libera o TSH, sigla em inglês para hormônio estimulador da tireoide. Essa substância viaja pelo sangue até o pescoço e regula a produção dos hormônios tireoidianos. A hipófise, por sua vez, vai liberar mais TSH ou menos conforme o julgamento de uma área cerebral, o hipotálamo, que vive analisando a situação do organismo. E aí é que está: todo esse eixo fica bagunçado quando os hormônios tireoidianos caem demais.

"Então, é como se o hipotálamo mandasse a hipófise focar no trabalho da tireoide, deixando de lado a produção de outros hormônios, o LH (luteinizante) e o FSH (folículo estimulante), que governariam os ovários", explica a Dra. Gabriela Pravatta Rezende, médica do Departamento de Ginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que integra a Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia). Resultado: a menstruação atrasa ou nem dá as caras. E a ovulação dificilmente acontece.

Abortos espontâneos

Segundo a ginecologista, eles podem ter um elo com a tireoidite de Hashimoto. "A mulher com propensão à doença autoimune poderia produzir anticorpos contra o embrião", diz ela. "Além disso", completa o Dr. Danilo Villagelin, professor da PUC Campinas (Pontifícia Universidade Católica), no interior paulista, e atual presidente do Departamento de Tireoide da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia)"os hormônios tireoidianos são fundamentais para a formação de uma placenta de qualidade. Sem ela, a gestação muitas vezes não vai adiante."

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Material destinado ao público em geral. Maio/2023. BRZ2274609.

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