De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres vivem, pelo menos, cinco anos a mais do que os homens¹. No Brasil, esse número é ainda maior. O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2020, apontava que a expectativa de vida, para os homens, era de 73,1 anos e, para as mulheres, de 80,1 — uma diferença de sete anos².
Além de questões genéticas, sociais e ambientais, esse fato também se dá porque, como apontam estudos do Ministérios da Saúde, as mulheres, historicamente, se cuidam muito mais do que os homens³. Além de todos os exames de rotina, que passam a ficar mais frequentes com a idade, é preciso dar a devida atenção a uma parte específica do corpo, para que siga saudável com o passar dos anos: a vagina.
Hidratação como proteção
Eliano Pellini, ginecologista e chefe do Setor de Saúde e Medicina Sexual da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), explica que a vagina tem um ambiente mucoso que conta com lubrificação natural como forma de proteção. “Esse é um mecanismo que a natureza criou para preservar a região da vagina, que está muito próxima ao intestino. A umidade está associada ao hormônio estradiol e toda a flora vaginal, que produz a lubrificação com um pH bem ácido. Dessa forma, então, as bactérias que vivem no intestino (que tem pH alcalino) não vivem na vagina e o contrário também é verdadeiro”.
Esse tipo de umidade tem início na puberdade e acompanha as mulheres até a maturidade. Mas, em alguns momentos, a lubrificação pode desaparecer, dando lugar ao ressecamento vaginal, uma situação que pode afetar tanto a saúde quanto a autoestima da mulher.
Uma situação que pode atingir a todas
De acordo com o médico, a falta de lubrificação pode acontecer em alguns momentos da vida, sendo sempre atrelados à falta de produção hormonal. São eles: pós-parto, tratamento quimioterápico ou imunoterapêutico, depressão, ansiedade, alto grau de estresse e pós-menopausa.
Se não cuidado, o ressecamento pode causar rachaduras, ardência, dor no ato sexual, formação de feridas, aumento de infecções vaginais e urinárias e até mesmo a síndrome geniturinária da menopausa – antes, chamada de “atrofia vaginal”. “Muitas vezes, as pacientes chegam ao consultório sem entender a gravidade do problema, não sabem que os lábios e clitóris podem se atrofiar e, inclusive, fechar o canal vaginal, causando muito incômodo e perda da confiança, da autoestima e do prazer”, afirma o dr. Pellini.
Hidratação e autoconhecimento
Reposições hormonais e hidratantes vaginais são as principais formas utilizadas para atuar no ressecamento vaginal. “Existem terapias hormonais que devem ser analisadas caso a caso. Já hidratantes vaginais são outra opção, eles agem absorvendo líquido e gerando a lubrificação. São acessíveis e podem ser comprados sem necessidade de receita médica”, ressalta.
Vale ressaltar também a diferença entre hidratante e lubrificantes. Esse último tem como finalidade aliviar o desconforto no ato sexual e é de uso pontual. O hidratante, por sua vez, age restaurando a umidade vaginal com efeito duradouro se aplicado regularmente como parte da rotina de saúde da mulher.
O dr. Eliano Pellini reforça ainda que, assim como há o cuidado com a pele, com cabelos e com o corpo de forma geral, o cuidado com o ambiente vaginal deve também fazer parte da rotina. Muitas mulheres mais jovens já entendem que a saúde vaginal é importante e que não é apenas por finalidade reprodutiva. Mas de 30% a 40% das pacientes entram na menopausa sem ao menos saber o que é o ressecamento. As mulheres, hoje, podem viver com qualidade de vida e sem desconfortos, além de poder manter a vida sexual ativa e sem sofrimento. É preciso se conhecer e conversar com o seu médico. A hidratação pode ser uma aliada e fazer toda a diferença para uma melhor qualidade de vida”, conclui.