Absolutamente todas as 37 trilhões de células do corpo humano — não importam onde elas estejam, se no coração ou no cérebro, nos músculos ou na pele, nos ovários, no intestino ou até na raiz de um fio de cabelo — só fazem o que precisa ser feito seguindo as ordens de uma glândula que fica na parte anterior, isto é, na frente do pescoço. É a tireoide.
As pessoas costumam pensar nela quando sobem na balança e veem o ponteiro oscilar. Porém, existe muita coisa que pode estar acontecendo no organismo além da variação de peso se a tireoide está funcionando de uma maneira inadequada.
Fácil entender o porquê: "Seus hormônios é que ditam como tudo deverá funcionar no corpo humano", resume o endocrinologista Danilo Villagelin, professor da PUC Campinas (Pontifícia Universidade Católica), no interior paulista, e atual presidente do Departamento de Tireoide da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Ou seja, as repercussões de uma tireoide fora do prumo acontecem da cabeça aos pés, sem poupar nenhum sistema do organismo. E a saúde, no sentido mais pleno, sairá perdendo se nada for feito para colocar as dosagens de seus hormônios nos eixos.
A mais ou a menos?
Quando fala em hormônios tireoidianos, Dr. Danilo Villagelin se refere à dupla triiodotironina e tiroxina. Também conhecida por T3 e T4, simples assim.
"Se, por acaso, essas duas substâncias são secretadas além da conta, estamos diante de uma condição chamada hipertireoidismo", ensina o endocrinologista. "Mas, aí, embora também preocupante, os sintomas podem ser um pouco mais claros. "Por exemplo, a taquicardia frequente às vezes assusta quem teme um problema no coração e faz a pessoa ao menos procurar um médico.
Na situação oposta, porém, a coisa muda de figura. No hipotireoidismo, quando a produção desses hormônios é mais baixa do que o esperado, os sintomas são ainda menos específicos. "E, pior, eles fazem parte de tudo aquilo que acreditamos ser normal na vida dos adultos", costuma brincar a professora Carolina Ferraz, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
E a gente nem desconfia...
Especialista em tireoide com pós-graduação na Alemanha, ela explica: "A pessoa com hipotireoidismo geralmente é aquela que se sente um pouco esquecida, avoada. Vive com sono e, de manhã, precisa de um guindaste para lhe arrancar da cama", descreve. "Muitas vezes bate o desânimo ou até mesmo a depressão. E eu pergunto: quem vai apontar para a tireoide como a responsável por tudo isso e quem vai culpar o corre-corre dos nossos dias?", provoca. A segunda opção ganha disparado.
"Se por acaso é uma mulher que vê o peso aumentar um pouco depois dos 40 ou 50 anos, ela logo assume que é consequência da idade", continua a médica.
Um detalhe é que o hipotireoidismo chega a ser oito vezes mais comum no sexo feminino e, para completar, a probabilidade de ele se manifestar cresce com o avançar das décadas. Resultado: ele pode coincidir com a menopausa, acusada por aquela irritabilidade que, na verdade, muitas vezes tem a ver (ela também!) com a baixa dos hormônios tireoidianos.
Segundo os especialistas, dois ou três sintomas relatados na consulta assim como quem não quer nada, somados a algumas características — como o fato de ser mulher, já citado —, são o suficiente para o clínico investigar como anda a produção da tireoide.
"Uma vez fechado o diagnóstico de hipotireoidismo, a reposição de hormônio tireoidiano não costuma ser opcional, como seria a de hormônios ovarianos na menopausa", compara a Dra. Carolina, embora até existam casos em que os médicos discutam a validade do tratamento.
A médica, porém, insiste na diferenciação para ressaltar a importância do quadro afetando a tireoide: "A menopausa significa apenas que a mulher não será mais capaz de reproduzir, função programada pela natureza para ser interrompida depois de um tempo", diz ela. "Mas a nossa tireoide, ao contrário, não foi feita para parar. Nosso organismo depende dela enquanto durar a vida."
Por isso, aquele sintoma sutil, como o cansaço que a gente suporta feito um ônus da modernidade, é para vir à tona na conversa com o médico. Ele pode ser apenas a ponta desse iceberg chamado hipotireoidismo.
Por que baixou, baixou por quê
A principal causa do hipotireoidismo no Brasil e no mundo é a tireoidite de Hashimoto, um erro do nosso sistema imunológico que cisma em atacar impiedosamente a glândula no pescoço, como se ela fosse uma completa estranha.
"A inflamação provocada por esse ataque vai matando as células da tireoide, mas é um processo lento e indolor. Ninguém sente nada e, quando se dá conta, a produção hormonal já está pequenina", conta a Dra. Carolina.
Por trás da revolta das células de defesa há sempre uma predisposição genética. Por isso, quando os médicos vão olhar, é comum encontrarem mais casos na família. Reside aí, também, uma possível explicação para a maior prevalência de hipotireoidismo nas mulheres: ora, a maioria das doenças autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, é mais comum nelas.
"De qualquer forma, podem existir fatores externos que serviriam de gatilho", lembra a Dra. Carolina. "A exposição excessiva a plásticos de embalagens e utensílios encontrados na cozinha é um exemplo", diz ela, referindo-se ao policarbonato, material muito usado em potes para guardar a comida e que pode conter moléculas de bisfenol A (ou BPA). Tremendamente instável, o bisfenol A passa para o alimento e, uma vez no organismo, é capaz de desregular nossos hormônios.
"Na verdade, até mesmo estresse emocional e infecções por vírus podem dar um empurrãozinho para ativar a resposta imune, fazendo os níveis dos hormônios tireoidianos saírem de lugar ", avisa a médica. Aliás, segundo ela, há também registros de aumento ou agravamento de casos de tireoidite de Hashimoto depois da Covid-19.
Entre os fatores externos, porém, ganha cada vez mais relevância o estilo de vida, com destaque para um sono de qualidade e uma alimentação equilibrada, na qual há porções muito moderadas de determinadas opções de cardápio que não favorecem o bom funcionamento da tireoide ou que até mesmo prejudicam sucesso do tratamento do hipotireoidismo.
Existem, claro, outras razões para a diminuição ou, em casos extremos, a ausência de hormônios tireoidianos. "Mas elas são bem mais raras", tranquiliza o Dr. Danilo Villagelin. "Uma delas é o tratamento do hipertireoidismo, se chega ao ponto de a gente precisar destruir a glândula com iodo radioativo para resolver essa disfunção em que há uma produção excessiva de hormônios tireoidianos", exemplifica. Aí, o organismo cai em uma situação oposta: fica sem T3 e T4.
O hipotireoidismo também acontece quando os médicos retiram a tireoide por causa de um tumor maligno. Ou, ainda, quando o paciente precisa de radioterapia para se livrar de outro câncer qualquer de cabeça e pescoço e essa glândula, ali por perto, termina arrasada por tabela pelo tratamento oncológico. A causa, aí, não é o iodo radioativo.
Em todos esses casos em que, por algum motivo, a pessoa fica sem a tireoide ou que suas células produtoras de hormônios acabam completamente destruídas não há saída a não ser repor os seus hormônios.
Você sabia?
Depois de uma internação prolongada é uma das situações em que o indivíduo fica com hipotireoidismo, mas ele é transitório. O susto, quando são feitas as dosagens hormonais no sangue, costuma ser à toa. A glândula tende a retomar sua produção normal em algumas semanas ou meses. "Há quem diga que essa seria uma estratégia do organismo para diminuir o seu metabolismo, repousar e, desse modo, se reestabelecer", revela a Dra. Carolina Ferraz.
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