O mundo está preparado para novas pandemias?

Especialistas em doenças infecciosas compartilham o que devemos fazer para estarmos preparados para gerenciar surtos de doenças.

Você se lembra dos epidemiologistas, não é?

Durante toda a pandemia da COVID-19, esses especialistas compartilharam seus conhecimentos, seja para aprender sobre a mais recente variante viral, seja para aconselhar a ida à academia. Ao navegarmos em um mundo pós-pandêmico, esse conhecimento ainda é vital.

Muitas questões surgiram ao longo do tempo: o que o mundo deve fazer para se manter preparado para o próximo surto ou ameaça de pandemia? Quais vírus conhecidos representam risco? Que medidas devem ser tomadas quando um novo vírus é detectado? 

A Abbott Pandemic Defense Coalition (Coalizão de Defesa contra Pandemias da Abbott) entrevistou mais de 100 especialistas mundiais em virologia, epidemiologia e doenças infecciosas para apresentar suas ideias mais recentes. Nossa própria caçadora de vírus, Dra. Mary Rodgers*, analisou o relatório e respondeu a algumas das principais perguntas. Acompanhe a seguir.

Dra. Rodgers, o mundo está preparado para outra pandemia?

Fizemos exatamente essa pergunta e 90% das pessoas que trabalham nessa área disseram que estamos igualmente ou mais bem preparados. Portanto, essa é uma boa notícia. Nem sempre houve um consenso entre os entrevistados da pesquisa. Os especialistas se dividiram ao meio. Ou seja, 50% quanto à possibilidade de um surto em larga escala de um novo patógeno, como vimos com a COVID-19; e os outros 50%em relação a mudanças em uma doença conhecida, como o H5N1 (gripe aviária).

O que devemos pensar sobre a gripe aviária? Devemos nos preocupar?

O H5N1 é uma gripe aviária altamente patogênica; portanto, é um vírus que a comunidade científica vem observando há décadas, especialmente como ele tem infectado os animais.

Na pesquisa, pedimos aos especialistas que pensassem no perfil, ou nas principais características, que um patógeno teria para determinar seu potencial de desencadear um surto em larga escala. "Altamente transmissível", "um novo vírus sem contramedidas" e "transmissão silenciosa" foram as principais características citadas. "Um patógeno conhecido que agora é resistente a medicamentos", "alta morbidade" e "alta mortalidade" foram muito pouco lembradas.

Podemos pensar nisso no contexto da gripe aviária. No momento, o vírus não é altamente transmissível entre humanos e existem contramedidas (testes, tratamentos e vacinas). Portanto, há uma orientação consistente da comunidade de saúde pública de que o risco de transmissão para humanos continua baixo, mas que devemos monitorar.

É por isso que os programas de vigilância para observar picos ou sinais de surtos são tão importantes.

Já existem programas de teste como esse para vírus novos ou existentes?

Eles existem, mas são necessários mais programas. Os especialistas desta pesquisa listaram os programas de vigilância para identificar patógenos emergentes como a lacuna nº 1 na qual deveríamos priorizar os investimentos para estarmos mais bem preparados.

Há vários tipos de programas de vigilância: há a vigilância ativa, como a busca de casos sintomáticos em sistemas de saúde ou a vigilância baseada em viajantes em aeroportos ou portos.

Há também programas de vigilância passiva, como a  vigilância de águas residuais, para se obter dados contínuos de vírus conhecidos, como a COVID-19 ou a gripe. Os países podem determinar quais programas de vigilância darão o melhor suporte para que suas comunidades estejam preparadas. 

Estamos vendo muitas notícias sobre doenças relacionadas a mosquitos, como o vírus do Nilo Ocidental e a EEE (encefalite equina oriental). Elas estão relacionadas ao clima? Como devemos pensar sobre o risco desses surtos?

As mudanças no clima não causam surtos de doenças, mas podem acelerá-los, como se fossem gravetos para uma fogueira. O clima mais quente e eventos climáticos extremos, como enchentes, podem significar que mais animais transmissores de doenças estão se aproximando de onde as pessoas vivem.

Uma descoberta fascinante da pesquisa foi que, com a mudança climática, devemos dar mais atenção às doenças transmitidas por mosquitos - 61% dos entrevistados listaram os patógenos transmitidos por mosquitos como os mais prováveis de representar uma ameaça maior à saúde humana à medida que o clima muda, em comparação com carrapatos, patógenos aviários ou animais. E 92% disseram que é importante rastrear a variedade de insetos devido ao efeito sobre surtos de doenças infecciosas.

O vírus da dengue, um agente patogênico transmitido por mosquitos, esteve nos destaques da imprensa no ano passado, em grande parte devido ao alto nível de casos na América Latina, como vivenciamos no Brasil, e na Ásia, bem como aos avisos emitidos sobre a possibilidade de o vírus se espalhar para outras regiões, como os EUA e a Europa.

Os membros da Abbott Pandemic Defense Coalition (APDC) estão realizando pesquisas para ver como as mudanças climáticas podem afetar o local de propagação das doenças. Compreender onde os vírus estão localizados, como eles estão se espalhando e quais podem se transformar em surtos pode ajudar os países a realizar testes para evitar uma maior disseminação.

O que a mantém acordada à noite quando se trata de estar preparada?

A comunidade de saúde pública tem uma tarefa difícil: como comunicar efetivamente a necessidade de estarmos preparados para o próximo desconhecido.

Em termos de preocupações, as principais respostas que os especialistas nos deram foram: a necessidade de aumentar a confiança do público, o investimento contínuo em sistemas públicos de testagem e a capacidade de rastrear e identificar possíveis vírus emergentes e surtos em todo o mundo.

Há muitas organizações em todo o mundo que fazem esse tipo de vigilância de testes, incluindo a Abbott Pandemic Defense Coalition. Estamos vendo exemplos de países que estão dando continuidade a programas de testes para ajudar a reduzir a disseminação de doenças infecciosas que afetam suas comunidades, incluindo HIV, hepatite e aquelas que causam doenças febris agudas, como malária ou dengue.

Esses programas estão abordando os desafios de saúde atuais e, ao mesmo tempo, mantendo esses países preparados para possíveis surtos no futuro.

A boa notícia é que essa pesquisa sugere que o maior desafio não está na necessidade de novas tecnologias. Em vez disso, podemos aproveitar tudo o que aprendemos durante a pandemia da COVID-19 para criar um sistema robusto, resiliente e duradouro, focado em identificar e orientar a resposta a ameaças emergentes em todo o mundo.

Clique aqui para ler o relatório completo da pesquisa (em inglês).

Important safety information

* Mary A. Rodgers, Ph.D.

Áreas de especialização: Programa de Vigilância Global da Abbott, caça ao vírus, pesquisa e diagnóstico de doenças infecciosas.

Mary Rodgers, Ph.D. é Pesquisadora Associada na área de Diagnósticos da Abbott. Em sua função, Mary gerencia pesquisas da Abbott Pandemic Defense Coalition, a primeira parceria científica e de saúde pública global liderada pela indústria dedicada à detecção precoce e resposta rápida a futuras ameaças pandêmicas. Como parte das ações da coalizão, mais de 20 localidades em todo o mundo monitoram patógenos circulantes e emergentes para ajudar a detectar rapidamente surtos e, em seguida, trabalham em conjunto com as autoridades de saúde para minimizar a propagação.

Ela também rastreia a diversidade de doenças infecciosas, incluindo HIV, hepatite e SARS-CoV-2 para avaliar o impacto da nova variante nos testes de diagnóstico. Em 2019, Mary e uma equipe de cientistas da Abbott anunciaram a descoberta de um novo subtipo de HIV e disponibilizaram a sequência para a comunidade global de pesquisa. Esta pesquisa marcou a primeira vez em 19 anos que um novo subtipo do HIV-1 Grupo M foi identificado.

Mary ingressou na Abbott em 2014 e é autora ou coautora de mais de 40 artigos de pesquisa e contribuiu com milhares de genomas virais para bancos de dados públicos. Mary foi nomeada uma das 30 Jovens Líderes em Biotecnologia com menos de 40 anos da Business Insider em 2017 e é membro empossado da Volwiler Society da Abbott, que reconhece seus cientistas e engenheiros mais ilustres.

Mary recebeu seu Ph.D. em ciências biológicas e biomédicas pela Universidade de Harvard e completou sua bolsa de pós-doutorado na University of Southern California.