HIV/AIDS: o que a moçada precisa saber 

Um guia sobre HIV/Aids para os jovens ficarem espertos

Dá para entender se os jovens não estão atualizados com informações sobre o HIV e a Aids. Quem não viu nem ouviu falar sobre a epidemia global que surgiu há uns 40 anos, pode acreditar que não há com o que se preocupar nos dias de hoje. Não se engane: é preciso ficar atento!

Na década de 1980 era muito diferente. Todo mundo sabia de uma pessoa famosa, de um amigo e, às vezes, de alguém da família que havia pegado o vírus da imunodeficiência humana – o HIV – e que, por causa dele, tinha ficado com as defesas do corpo cada vez mais fracas. Chegando ao ponto em que o organismo não conseguia mais se curar de doenças que, não fosse a presença do vírus, seriam um inimigo fácil para o sistema imunológico derrotar. Mas o HIV criava a oportunidade para as enfermidades se manifestarem.

Como e quando o HIV surgiu

A infecção pelo HIV é uma zoonose. Ou seja, uma virose transmitida de um animal para o ser humano. No caso, o ponto de partida é o chimpanzé, espécie que pode ter um vírus muito parecido com o HIV: o SIV (vírus da imunodeficiência símia). Só que o SIV não faz mal algum ao sistema de defesa desses animais.

Entretanto, em algumas regiões da África onde há muitos chimpanzés aparentemente saudáveis, mas que carregam o SIV, as pessoas apreciam carne de macaco. Por isso, podem entrar em contato com o sangue dos animais contaminados quando, por exemplo, se cortam sem querer com a faca usada para preparar a refeição. Uma vez dentro do corpo humano, o SIV se transformou em HIV. No entanto, bem diferente de seu ancestral vindo dos macacos, o HIV é capaz de desencadear uma doença fatal no homem: a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

O primeiro tratamento

A Aids foi descrita pela primeira vez em 1981. Mas os cientistas, estudando o material genético do vírus, calculam que o SIV dos macacos infectou os primeiros seres humanos na década de 1930.

Nos anos 80, auge da epidemia, não havia tratamento. Por isso, as pessoas que se infectavam com HIV acabavam doentes de Aids e morrendo. O primeiro medicamento surgiu em 1986, a zidovudina. Conhecida por AZT, a medicação apresentava dois problemas:

  • o AZT sozinho não conseguia deter o HIV por muito tempo. Ele só prolongava o período antes de alguém desenvolver a Aids e morrer.
  • a dose desse medicamento era tão alta que a pessoa se sentia muito mal. Além disso, a pele ficava com um tom acinzentado, o que levava à desconfiança do que estava acontecendo. E nem sempre as pessoas querem expor o que está se passando na intimidade da sua saúde.

Como é o tratamento atual

  • Hoje, quem vive com o HIV toma um coquetel de remédios que, combinados, cercam o vírus por todos os lados. Essa estratégia é extremamente eficiente e, com ela, a pessoa não fica doente.
  • Como agem em conjunto, as dosagens podem ser muito mais baixas e quase ninguém sente efeitos colaterais. Portanto, o coquetel de medicamentos anti-HIV é considerado seguro.
  • Com a medicação, a quantidade de vírus na circulação reduz a ponto de os exames não conseguirem detectá-lo. Assim, a pessoa que vive com HIV pode levar uma vida absolutamente normal, incluindo namorar, ter filhos…
  • Vírus indetectável é igual a vírus não transmissível. Ou seja, a pessoa HIV positiva que faz o tratamento corretamente deixa de transmitir a infecção.

Tudo isso, claro, é muito bom. Mas há um aspecto que não é assim tão bom: sem conhecer alguém com Aids e sem saber que existe uma quantidade enorme de jovens que se tratam para manter a infecção sob controle, muitas pessoas acreditam que o HIV já não é mais capaz de fazer mal. E isso não é verdade!

Na realidade, o HIV continua o mesmo de sempre e ele só não provocará a Aids em quem está fazendo corretamente o tratamento com o coquetel de  de remédios. Por isso, é importante tomar cuidado e fazer testes para saber quem é HIV positivo, para começar o tratamento o quanto antes.

Ainda é perigoso

Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids 2023 do Ministério da Saúde, no Brasil, observou-se que 114.593 (23,4%) casos são de jovens entre 15 e 24 anos, representando 25,0% e 19,6% dos casos no sexo masculino e feminino, respectivamente. E, no mundo, de acordo com dados do UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), cerca de 1 milhão de garotas e 750 mil garotos de 10 a 19 anos vivem com o HIV.

É preciso entender que a infecção ainda pode ser fatal! Anualmente, são 30 mil mortes de adolescentes de 10 a 19 anos por causa dessa doença ao redor do globo. Um dos principais motivos é que os jovens não acreditam que o HIV seja tão perigoso, deixam de fazer o teste e ficam sem tratamento ignorando que estão infectados. Segundo estimativa do UNAIDS, só no ano de 2020 mais de 150 mil adolescentes entre 10 e 19 anos pegaram o HIV. Mas apenas 1 em cada 4 fez o teste para descobrir que tinha o vírus. É preciso mudar esse cenário!

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Afinal, como o HIV é transmitido?

Veja a seguir algumas das principais situações em que você pode se infectar:

  • Durante a relação sexual
    Quando uma pessoa soropositiva não se trata, há uma grande concentração do vírus nos fluidos da vagina e no sêmen. O HIV se aproveita de machucadinhos invisíveis nas mucosas, cortes microscópicos, quase arranhões, que surgem durante o sexo. Isso acontece nas relações vaginais, anais e, eventualmente, no sexo oral.
  • E durante o beijo?
    Pode beijar! A saliva não tem uma concentração importante do vírus da imunodeficiência humana. Por isso, o HIV não é transmitido desse jeito. E lembre-se: pelo mesmo motivo, o HIV não é transmitido ao compartilhar xícaras, talheres, copos, cigarros e outros objetos utilizados pela pessoa que vive com HIV.
  • Da mãe para o bebê
    Se a mulher engravida, está infectada e não toma o coquetel de remédios, o HIV pode se transmitido para a criança ainda na barriga, na hora do parto ou pelo leite materno.
  • Pelo sangue
    A circulação sanguínea de quem tem o vírus e não está sendo tratado ganha até 100 bilhões de novas cópias do HIV todo dia. Qualquer gotinha de sangue carrega um monte deles e é capaz de fazer um estrago.
  • Antes da aprovação do primeiro teste de diagnóstico criado pela Abbott, em março de 1985, quem precisava de transfusão sanguínea corria o perigo enorme de receber uma doação contaminada pelo HIV. Hoje, felizmente, em países como o Brasil, todo sangue doado deve passar por testagem.
  • Pelo compartilhamento de seringas, agulhas ou qualquer objeto capaz de cortar ou furar.
    Dentro de uma agulha pode restar uma gotícula de sangue que pode conter milhares de cópias do HIV. Por isso, um usuário de drogas que aceita a agulha de uma pessoa contaminada tem mais de 95% de risco de se infectar.

Para o vírus não pegar você

Por mais que hoje seja relativamente tranquilo viver com o HIV em relação ao passado ─ quando a pessoa sabe que é soropositiva e se cuida ─, sem dúvida, é muito melhor não ter o vírus. Mesmo controlado pelos remédios, o HIV causa uma pequena inflamação constante, que pode fazer os órgãos envelhecerem mais depressa. E, o melhor é ter uma longa vida pela frente!

Uma boa opção é a proteção combinada. Se você vive muito exposto ─ por sair e se relacionar sexualmente com muita gente, por exemplo ─, o ideal é usar dois métodos de prevenção ao mesmo tempo. Assim, se um deles falha, o outro está a postos para barrar o HIV.

  • Preservativo masculino ou feminino: não evita só o HIV, mas também outros agentes infecciosos sexualmente transmissíveis e uma gravidez não desejada.
  • PrEP (profilaxia pré-exposição): é uma combinação de dois dos remédios que estão no mesmo coquetel usado por quem é soropositivo. A PrEP é indicada antes de você se relacionar com alguém sem ter certeza se essa pessoa carrega o HIV ou não. Vamos fazer uma comparação: da mesma maneira como a mulher que toma pílula anticoncepcional todo dia dificilmente engravida, quem usa PrEP diariamente diminuiu em mais de 90% o risco de contrair o HIV.
    • Onde conseguir: a PrEP é encontrada nas farmácias como um comprimido que junta as duas drogas, mas também é disponibilizada de graça pelo SUS (Sistema Único de Saúde) nos centros de referência para HIV/Aids.
    • Quem pode tomar: pessoas acima de 15 anos, desde que tenham mais de 35 quilos.
    • É para todo mundo? Não, é para quem vive mais exposto, como homens que fazem sexo com homens e não têm parceiro fixo, usuários de drogas… O certo é conversar com um médico de sua confiança ou com os profissionais de um dos centros de referência do SUS para tirar dúvidas e ver se é o seu caso.
    • O que saber: a PrEP pode demorar de uma a três semanas para fazer efeito. Por isso, é preciso esperar esse tempo!

Importante: não se deve usar a PrEP de vez em quando, antes daquela festa especial ou de uma viagem de férias, quando você imagina que poderá fazer sexo com desconhecidos. Por enquanto, no Brasil, o uso da PrEP, só pode ser contínuo, para quem faz sexo com relativa frequência com gente que não conhece direito. E você precisa fazer exames regulares para retirar a medicação a cada três meses.

E se eu suspeito que posso ter me infectado?

Existem situações em que é normal sentir receio de ter contraído o HIV. Veja algumas delas abaixo:

  • teve relações sem qualquer proteção com alguém que só contou que tinha o HIV depois. E, como você não conhece bem a pessoa, não sabe se ela está fazendo o tratamento corretamente. Melhor se garantir.
  • você, infelizmente, foi vítima de violência sexual.
  • estava sob forte efeito de álcool ou de outras substâncias químicas, sabe que ficou com alguém, mas não se lembra de detalhes da relação. Ou não tem certeza se compartilhou seringas.
  • você sabe que acabou compartilhando agulhas com outros usuários de drogas.
  • trabalha na área da saúde ou faz um serviço voluntário e se machucou sem querer durante algum procedimento em uma pessoa convivendo com a Aids.

 

Quando é assim, você pode procurar pela PEP nos postos de saúde. A profilaxia pós-exposição é usada como um recurso emergencial. A ideia é tomar o mesmo coquetel de medicamentos indicado para quem vive com o HIV, mas só por quatro semanas.

  • Onde conseguir: a PEP está disponível em qualquer horário em todos os serviços de emergência do SUS e nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs).
  • Quem pode usar: indivíduos acima de 12 anos com mais de 35 quilos.
  • O que saber: a PEP só é dada se você procura ajuda no máximo 72 horas após a situação que pode ter provocado a infecção pelo HIV, porque depois disso não terá resultado. O indicado é iniciar o tratamento no mesmo dia ou após 24 horas.

A PEP pode ser considerada mais forte do que a PrEP. Mas, não é para fazer uso dela a toda a hora, porque ninguém sabe o que acontece se você toma e para, toma de novo e para outra vez. Pode ser que, desse jeito, você crie vírus mais resistentes. Então, se você sempre se expõe ao risco de infecção, vá de PrEP, fazendo uso contínuo.

E se quiser saber mais sobre HIV e Aids?

Clique aqui e leia a cartilha da Abbott: HIV/Aids – Tudo o que você gostaria de saber.

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As informações são fornecidas somente para fins informativos e não substituem a orientação médica ou de outro profissional de saúde. Você não deve utilizar a informação contida aqui para diagnosticar um problema de saúde ou doença. Sempre consulte um médico ou outro profissional de saúde.

Redação e edição: Lúcia Helena de Oliveira.

Documento realizado graças às contribuições do Dr. Ricardo Sobhie Diaz, médico infectologista; Dr. Orlando Ferreira, médico infectologista; Dr. Demetrius Montenegro, médico; e Dra. Mary Rodgers, bióloga e biomédica, que integra o time de cientistas da Abbott, liderando a área de diagnósticos e à frente do Global Surveillance Program.