Vamos falar sobre endometriose?

POR MAGALI BALLOTI

Considerada uma das principais causas de infertilidade feminina, atingindo cerca de 30% a 50% das pacientes, a endometriose já acomete mais de 176 milhões de mulheres no mundo, sendo seis milhões no Brasil.1

Estima-se que a maioria dos casos tenham fatores genéticos envolvidos. Além disso, acredita-se que o padrão de vida feminino atual – engravidar mais tarde, ter menos filhos, ter um maior nível de estresse – pode influenciar o surgimento da doença.1

A endometriose pode ser uma condição debilitante e muitas mulheres sofrem em silêncio. Para essas mulheres, sentir dor pélvica crônica tornou-se a norma2-4. No entanto, existem tratamentos para gerenciar sintomas, mas também para abordar os problemas de infertilidade comumente associados à endometriose 5,6. O tratamento adequado ajuda a gerenciar a condição e aliviar seu impacto negativo no bem-estar físico, mental e social em geral 3,7. Embora a endometriose seja generalizada, ela continua a ser mal diagnosticada e mal compreendida.2,4,7,8

Entendendo a endometriose7
Trata-se de uma doença caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio (o revestimento do útero) fora do útero. Isso causa uma reação inflamatória crônica que pode resultar na formação de tecido cicatricial (aderências, fibrose) dentro da pelve e outras partes do corpo. Vários tipos de lesões foram descritos:

  • endometriose superficial encontrada principalmente no peritônio pélvico
  • endometriose ovariana cística (endometrioma) encontrada nos ovários
  • endometriose profunda encontrada no septo retovaginal, bexiga e intestino
  • em casos raros, a endometriose também pode ser encontrada fora da pelve

Os sintomas associados à endometriose variam e incluem uma combinação de:

  • períodos dolorosos
  • dor pélvica crônica
  • dor durante e/ou após a relação sexual
  • movimentos intestinais dolorosos
  • urinação dolorosa
  • fadiga
  • depressão ou ansiedade
  • inchaço abdominal e náusea

Estudo realizado com 450 mulheres brasileiras com endometriose mostrou que os sintomas mais comuns são dor durante a menstruação (86%), dor durante a relação sexual (50%) e infertilidade (36%). 9 Outros sintomas de endometriose incluem movimentos intestinais dolorosos, urinação dolorosa, fadiga, depressão ou ansiedade e inchaço abdominal.7,10

Mais do que os sintomas dolorosos, a endometriose ainda pode causar infertilidade. Esta situação ocorre devido aos prováveis efeitos da endometriose na cavidade pélvica, ovários, tubos de falópio ou útero. Mulheres com endometriose também têm seis vezes mais chances de ter um histórico de infertilidade do que mulheres sem endometriose2. 20% a 25% das mulheres com endometriose são assintomáticas11.

Além do sofrimento físico, também há impactos emocionais e psicológicos significativos na saúde. Um estudo brasileiro de 2020 constatou que os sintomas vivenciados por mulheres brasileiras com endometriose (como dor severa e limitante) impactam fortemente sua qualidade de vida e bem-estar emocional.12

Conviver com a endometriose pode ser isolador, pois a dor dificulta a participação em atividades sociais; problemas de fertilidade podem levantar sentimentos de frustração e dor durante a relação sexual pode levar à perda de intimidade13,14,15. A endometriose também pode ter impacto financeiro, pois as mulheres podem ser colocadas em risco de perder o emprego devido ao absenteísmo ligado aos sintomas da dor.3, 13, 15, 16, 17

Diagnóstico
A endometriose ainda é, em grande parte, diagnosticada erroneamente2,4,7. Isso traz grandes consequências negativas para as mulheres e sua saúde.  Cerca de uma em cada dez mulheres (cerca de 10% das mulheres em sua idade reprodutiva e meninas em todo o mundo) em seus anos reprodutivos é afetada pela endometriose, correspondendo a 190 milhões de mulheres em todo o mundo 7.

Frequentemente, mulheres com endometriose enfrentam equívocos e preconceitos antes de sua condição ser corretamente diagnosticada3. O tempo médio para o diagnóstico é de quatro a onze anos após o início dos sintomas2. No Brasil, o tempo médio do início dos sintomas ao diagnóstico de endometriose é de 7 anos.18 Essa demora pode ocorrer devido a diagnósticos anteriores de típicas cólicas menstruais.

Uma pesquisa feita com 1274 ginecologistas brasileiros mostrou que apenas 5,1% deles afirmaram que a endometriose pode afetar mulheres de todas as idades, 17,3% acreditam que a endometriose pode ocorrer na adolescência.19

Tratamentos7
O tratamento pode ser com medicamentos e/ou cirurgia, dependendo de sintomas, lesões, desfecho desejado e escolha do paciente em acordo com seu médico.

Esteroides contraceptivos, anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos são terapias comuns. Todos devem ser cuidadosamente prescritos e monitorados para evitar efeitos colaterais potencialmente problemáticos.

Os tratamentos médicos para a endometriose concentram-se na redução do estrogênio ou no aumento da progesterona, a fim de alterar ambientes hormonais que promovem a endometriose. Essas terapias médicas incluem a pílula anticoncepcional oral combinada, progestinas e análogos GNRH (substâncias sintetizadas). No entanto, nenhum desses tratamentos erradica a doença. Estão associados a efeitos colaterais e, além disso, os sintomas relacionados à endometriose podem reaparecer após a interrupção da terapia.

A escolha do tratamento depende da eficácia no organismo da mulher, efeitos colaterais adversos, segurança a longo prazo, custos e disponibilidade. A maioria dos atuais manejos hormonais não é adequada para pessoas que sofrem de endometriose e desejam engravidar, pois afetam a ovulação.

Outra opção é a cirurgia. Ela pode remover lesões, aderências e tecido cicatricial. Entretanto, o sucesso na redução dos sintomas de dor e o aumento das taxas de gravidez muitas vezes dependem da extensão da doença. Além disso, as lesões podem se repetir mesmo após a erradicação bem-sucedida, e anormalidades musculares do assoalho pélvico podem contribuir para a dor pélvica crônica.

A Abbott tem se empenhado em aumentar a conscientização sobre a endometriose para que as mulheres possam pedir ajuda, obter o apoio de que precisam e, finalmente, aproveitar suas vidas ao máximo. Por isso, ao reconhecer alguns dos sintomas, não os ignore e procure seu médico rapidamente. A menstruação é uma parte normal e saudável da vida de uma mulher. Mas dor cíclica regular e pélvica forte que é severa não é normal4.

Referências

1Hcor – Associação Beneficente Síria. Cerca de 50% dos casos de endometriose são hereditários. Website acessado em julho/2022. Cerca de 50% dos casos de endometriose são hereditários - Hcor
2Taylor HS, Kotlyar AM, Flores VA. A endometriose é uma doença sistêmica crônica: desafios clínicos e novas inovações. O Lancet. 2021;397(10276):839-852.
3Grogan S, Turley E, Cole J. 'Tantas mulheres sofrem em silêncio': uma análise temática dos relatos escritos das mulheres sobre o enfrentamento da endometriose. Saúde Psicol. 2018;33(11):1364-1378.
4Ballard K, Lowton K, Wright J. Qual é o atraso? Estudo qualitativo das experiências das mulheres de chegar a um diagnóstico de endometriose. Estéril Fértil. 2006;86(5):1296-1301.
5Ferrero S, Evangelisti G & Barro F. Opções atuais e emergentes de tratamento para endometriose. Opinião especializada em Farmacoterapia. 2018;19(10): 1109-1125.
6Trivedi P, Selvaraj K, Mahapatra PD, Srivastava S, Malik S. Tratamento pós-laparoscópico eficaz de endometriose com dydrogesterona. Gynecol Endocrinol. 2007;23 Suppl 1:73-76.
7Organização Mundial da Saúde (OMS). Endometriose. Fatos-chave. Disponível em https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/endometriosis. [Acessado em 9 de junho de 2021].
8Denny E, Mann CH. Uma visão geral clínica da endometriose: uma doença incompreendida. Frei J Nurs. 2007;16(18):1112-1116.
9Neme RM, Andrade DC, Brescia M et al. Estudo epidemiológico sobre fatores de risco da endometriose pélvica no Brasil. [ASRM resumo P-37]. Estéril Fértil. 2002;77(suppl1):S37.
10Fuldeore MJ, Soliman AM. Prevalência e Carga Sintomática da Endometriose Diagnosticada nos Estados Unidos: Estimativas Nacionais de uma Pesquisa Transversal de 59.411 Mulheres. Gynecol Obstet Invest. 2017;82(5):453-461.
11Bulletti C, Coccia ME, Battistoni S, Borini A. Endometriose e infertilidade. J Assist Reprod Genet. 2010;27(8):441-447.
12Pessoa de Farias Rodrigues M, Lima Vilarino F, de Souza Barbeiro Munhoz A, et al. Aspectos clínicos e qualidade de vida entre mulheres com endometriose e infertilidade: estudo transversal. BMC Womens Health. 2020;20(1):124.
13Moradi M, Parker M, Sneddon A, Lopez V, Ellwood D. Impacto da endometriose na vida das mulheres: um estudo qualitativo. BMC Womens Health. 2014;14:123.
14
Norinho P, Martins MM, Ferreira H. Uma revisão sistemática sobre os efeitos da endometriose na sexualidade e na relação do casal. Fatos Vê Vis Obgyn. 2020;12(3):197-205. Publicado em 8 de outubro de 2020.
15Culley L, Law C, Hudson N, et al. O impacto social e psicológico da endometriose na vida das mulheres: uma revisão narrativa crítica. Atualização Hum Reprod. 2013;19(6):625-639.
16
Surrey E, Soliman AM, Trenz H, Blauer-Peterson C, Sluis A. Impact of Endometriosis Diagnostic Delays on Healthcare Resource Utilization and Costs. Adv Ther. 2020;37(3):1087-1099
17
Nnoaham KE, Hummelshoj L, Webster P, et al. Impacto da endometriose na qualidade de vida e produtividade do trabalho: um estudo multicêntrico em dez países. Estéril Fértil. 2011;96(2):366-373.e8.
18Arruda MS, Petta CA, Abrão MS, Benetti-Pinto CL. O tempo passou do início dos sintomas ao diagnóstico de endometriose em estudo de coorte de mulheres brasileiras. Hum Reprod. 2003;18(4):756-759.
19Petta CA, Matos AM, Bahamondes L, Faúndes D. Prática atual no manejo de sintomas de endometriose: levantamento de ginecologistas brasileiros. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(6):525-529.

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