Saiba o que a ciência diz sobre a ligação entre emoção e coração

Coração Saudável|May.24, 2017

Pense em alguém que você ama. Quando você diz "eu te amo", você acha que é uma declaração que vem do pensamento cognitivo. Mas pode ser uma emoção simples e sincera ou uma mistura dos dois.

A ciência já é capaz de dizer que a emoção afeta não apenas a nossa saúde mental, mas também o bem-estar físico, especialmente relacionado ao coração. Um coração partido realmente pode machucá-lo.

Segundo a Faculdade de Medicina de Harvard, em Boston, nos EUA, já existem evidências que sugerem o quanto os fatores psicológicos podem impactar na saúde do coração e, inclusive, aumentar o risco de doenças cardíacas. Veja como isso funciona:

FATORES BONS VS. RUINS

Quando você faz exercícios físicos, as batidas do coração passam a trabalhar de forma acelerada; a pressão arterial sobe e a respiração aumenta para sincronizar com os pulmões e melhorar oxigenação do sangue. E, dessa forma, levar energia (açúcar) para os músculos. No decorrer de um treino, por exemplo, esse esforço, desde que moderado, é considerado bom para a maioria das pessoas saudáveis.

Mas o que acontece quando você recebe notícias ruins, como a morte de uma pessoa querida? O coração bate mais rápido, a pressão arterial sobe e a respiração aumenta. Ou seja, a reação é bem semelhante aos exercícios físicos.

Agora pense: por que um é bom para você e o outro não? A resposta é simples. Porque a emoção traz a ação repentina. "O coração não tem tempo de se adaptar às mudanças necessárias para resistir a esse tipo de estresse", diz Dr. Krishna Sudhir, Vice-Presidente da Divisão Vascular da Abbott. "Ele acelera sem, necessariamente, desencadear um aumento compensatório para suprir o sangue. E, quando a notícia é muito séria, a interação entre o coração e o cérebro tende a ser ainda pior”, completa.

Pesquisadores da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, nos EUA, chegaram a relatar, no American Journal of Cardiology, que durante a queda da bolsa de valores, entre 2008 e 2009, os ataques cardíacos foram mais frequentes. A triste notícia financeira foi demais para muitos corações.

Dr. Sudhir também citou um estudo recente do Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA, que analisava as conexões entre o cérebro e o coração. "O estudo sugere que, quando a amígdala cerebelosa, uma parte em forma de azeitona do cérebro profundo dentro do córtex emocional, está hiperativa, o risco de ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral aumenta", conta Dr. Sudhir. "Como cardiologista, sempre soube da conexão entre emoções e doenças cardiovasculares, mas atualmente existem dados científicos comprovando esse vínculo de maneira mais direta”.

SINTOMAS EM HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS

O sexo e a idade influenciam, e muito, na forma como o coração responde à emoção e à mente. Os sintomas de problemas cardíacos são bem diferentes entre homens, mulheres e crianças. Nos homens, por exemplo, os ataques cardíacos tendem a vir com dores no peito, que podem irradiar para o braço esquerdo, além de um aperto forte na região. Para eles, os sintomas são mais conhecidos.

Nas mulheres, os sinais são sutis. Podem começar com uma forte fadiga ou vir com uma queimação na região do tórax, além de dores contínuas nas costas. Não é caricato como nos homens.

Segundo Dr. Sudhir, estudos sugerem também que homens e mulheres processam pensamentos felizes e tristes de formas diferentes. "A resposta do corpo para pensamentos tristes pode levar mais tempo para acabar nas mulheres do que nos homens. A ansiedade e a depressão mostram uma prevalência maior nas mulheres".

Os adultos também tendem a internalizar os problemas e a ficar mais sozinhos. "As questões emocionais estão, muitas vezes, interligadas. Por exemplo, o estresse psicológico pode levar à ansiedade, depressão e ao isolamento social. E, quando esses problemas vêm combinados, a consequência pode ser maior”.

Experiências de vida da infância também podem ter efeitos na saúde mental adulta. “Estresses vividos nessa fase podem conduzir questões físicas e emocionais no futuro”, diz Dr. Sudhir. "As crianças podem desenvolver a resiliência, mas precisam de apoio no ambiente familiar, na escola e bom atendimento pediátrico".

CORAÇÕES TRISTES, CORAÇÕES PARTIDOS

“Morrer de coração partido”. É uma frase comum quando uma pessoa perde alguém muito querido, principalmente de forma repentina e, logo em seguida, morre também. Como no caso das atrizes Debbie Reynolds - de Cantando na Chuva -  e Carrie Fisher - a princesa Leia dos filmes “Star Wars”-, em dezembro de 2016. Quando a filha faleceu, a mãe teve seu coração partido e não aguentou.

A Síndrome do Coração Partido tem referência científica. Pessoas deprimidas são mais propensas a desenvolver cardiopatias. Isso acontece porque quando uma pessoa está deprimida, ela deixa o coração sob um grau bastante grave de tensão.

"A Síndrome do Coração Partido é uma versão mais súbita disso. Quando você está sob sofrimento emocional grave, por exemplo, ouvir sobre a morte de um parente faz com que as artérias coronárias entrem em espasmos e pode causar a diminuição do suprimento de sangue para o coração. O órgão pode não se contrair do jeito que deveria”, explica Dr. Sudhir.

Os hormônios de estresse, principalmente a norepinefrina, podem sobrecarregar a circulação. Isso predispõe o coração a distúrbios rítmicos e pode até ser fatal. "Quando você faz radiografias do coração em pessoas que acabaram de ouvir más notícias, a principal câmara cardíaca (ventrículo esquerdo) expande como um balão e incha. Esta é uma base patológica da Síndrome do Coração Partido", diz Dr. Sudhir.

Quando os médicos registram eletrocardiogramas do coração sob este tipo de estresse, o resultado é semelhante ao de um ataque cardíaco. Isso significa que o músculo do coração sofreu fisicamente a partir de uma sensação emocional desencadeada a partir de más notícias.

A CONEXÃO ENTRE CORAÇÃO E MENTE

A relação entre coração e emoção está clara:

  • Podemos nos beneficiar positivamente da relação entre cérebro e coração por meio de exercícios, meditação, técnicas de relaxamento.
  • Assim como a depressão pode acarretar danos ao coração, pessoas felizes tendem a viver mais e ter menos problemas de coração.
  • Descanso e sono ajudam e deixam claro a relação entre saúde e mente.

Dr. Sudhir vislumbra o dia em que os psicólogos e psiquiatras serão colaboradores diretos em clínicas de cardiologia, assim como os nutricionistas já fazem parte da reabilitação clínica de um paciente cardíaco.

"O aspecto mais importante é a manutenção do equilíbrio entre vida profissional e familiar. Podemos ter trabalhos interessantes e desafiadores que nos mantenham empenhados, mas precisamos de um momento para desligar, ir para casa e relaxar". Levar o estresse para casa pode prejudicar a saúde do coração e até atrapalhar o rendimento no trabalho.

Como diz Dr. Sudhir, estamos apenas na superfície da compreensão do papel que as emoções desempenham na saúde do coração. Mas à medida que a ciência explora essas questões, fica ainda mais claro que o impacto, a longo prazo, pode se estender pelo resto de nossas vidas”, conclui.

 

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