Doenças do coração podem ser provocadas por variações no humor

Coração Saudável|Apr.08, 2019

POR TÂNIA NOGUEIRA

Tristeza, mágoa, raiva, ansiedade, mau-humor. Tudo isso pode contribuir para o aparecimento ou agravamento de doenças do coração, principalmente em quem já tem histórico de pressão alta (hipertensão). Pessoas com distúrbios psiquiátricos, como depressão ou transtorno bipolar, correm maior risco.

Um estudo1 feito pela King's College London, na Inglaterra, em 2009, mostrou que a prevalência de doenças cardiovasculares e hipertensão é significativamente maior entre pacientes com transtorno bipolar do que no resto da população. Mesmo pessoas sem problemas crônicos de saúde, no entanto, estão sujeitas a ter acidentes cardíacos provocados por condições emocionais. Elas podem sofrer a chamada síndrome do coração partido ou síndrome de Takotsubo, também conhecida como síndrome do coração partido, um mal muito similar ao infarto que acontece em situações extremas de estresse ou tristeza.

A boa notícia é que variações de humor têm como ser controladas, sejam elas de causa endógena ou não. Além de uma série de medicamentos que podem ser prescritos pelo seu médico para combater depressão, há várias coisas que podem ser feitas para tornar os seus dias naturalmente mais prazerosos e o humor mais leve. Sem nunca esquecer de eliminar da rotina fatores de risco para doenças do coração como tabagismo, alimentação desbalanceada ou sedentarismo.

Rir e chorar são os melhores remédios

Nada como uma boa gargalhada para tirar o peso dos problemas do dia a dia das costas. Emoções negativas, como ansiedade, ódio ou decepção, levam à liberação de cortisol, adrenalina e noradrenalina, hormônios que podem fazer a pressão arterial subir e o coração acelerar, entre outros efeitos nocivos. O riso é um antídoto para esse veneno, reduz esses hormônios e, de quebra, ajuda a desinflamar as artérias e a aumentar os níveis de colesterol bom no sangue.

Por paradoxal que pareça, crises de choro, quando não muito frequentes, têm um efeito semelhante no organismo. Elas lavam a alma, como se diz popularmente. E como provocar choro e riso sinceros? A forma mais fácil e rápida é ir ao cinema ou assistir televisão. Escolha uma boa comédia para rir ou um drama, se estiver precisando chorar. Ler, ir ao teatro ou assistir a quadros de humor na internet têm o mesmo efeito.

Quem canta (e dança) seus males espanta

Você pode não ter a voz mais afinada do mundo nem ser exatamente um pé de valsa. O importante é se jogar, esquecer as inibições. Cantar libera endorfina, hormônio ligado à sensação de prazer, e ocitocina, hormônio ligado ao orgasmo e à capacidade de interação social. Por sinal, há indícios de que cantar em grupo, como num coral, traz benefícios maiores do que cantar sozinho. Dançar, por sua vez, além de ser um exercício físico, o que por si só é bom para o coração, também libera hormônios relacionados ao prazer e à saciedade. Se você tem vergonha de cantar ou dançar em público, faça isso em casa, sozinho. Já ajuda.

Banho de sol e de natureza combatem melancolia

No Japão, é comum as pessoas tomarem um "banho de floresta". Elas fazem caminhadas pela mata, de quando em vez, como forma de combater o estresse. A Universidade de Chiba, nas cercanias de Tóquio, realizou um estudo2, entre 2007 e 2017, para ver até que ponto isso funcionava. Comparando um grupo que caminhava frequentemente por florestas com outro que caminhava pela cidade, o experimento mostrou uma diminuição 12% maior nos níveis de cortisol na turma do bosque. O contato com a natureza, portanto, reduz o estresse.

A luz do sol também tem poderoso efeito contra a depressão ou estados melancólicos, como apontam diversas pesquisas. Existe até uma doença mental chamada de desordem afetiva sazonal, depressão que afeta as pessoas principalmente no inverno e nas regiões mais próximas dos polos, onde os dias, nessa época do ano, são bem mais curtos. A incidência dessa desordem é nove vezes maior no Alasca do que na Flórida, segundo artigo3 de 2008, de Sala Horowitz, da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos. Os fatores que levam ao aparecimento do quadro ainda não foram completamente esclarecidos, mas tudo indica que o problema está ligado à falta de luz, que mexe com nosso ritmo biológico e afeta a produção de hormônios importantes para o bem-estar, como serotonina e melatonina.

Dormir bem clareia a mente

É sabido que dormir é fundamental para a manutenção da saúde como um todo. No caso da saúde mental, isso é ainda mais verdadeiro. Uma pesquisa4 feita em 2007, em conjunto pela Universidade da Califórnia em Berkeley e a Escola de Medicina de Harvard, em Massachussetts, ambas nos EUA, mostra que a falta de sono interfere na comunicação entre a amígdala (parte do cérebro que gera nossas emoções) e o córtex pré-frontal (parte do cérebro que racionaliza essas emoções). Com essa comunicação prejudicada, somos incapazes de dar o devido tamanho aos problemas de trabalho, aos conflitos familiares, às dificuldades de relacionamento. Tudo parece pior e, se essa falta de sono se repetir por muitos dias, podemos cair em depressão. Um estudo5 de 2014, da Universidade de Michigan, nos EUA, mostra que mesmo sonecas de alguns minutos podem ajudar as pessoas a reagir com menos impulsividade.

Meditar

É possível descansar a mente mesmo estando acordado e esse relaxamento cerebral pode ser alcançado por meio da meditação. Um estudo6 de 2014, da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos EUA, mostrou que meditar por 25 minutos durante três dias seguidos já é suficiente para baixar os níveis de hormônios responsáveis pelo estresse, como o cortisol. Há várias técnicas de meditação, mas todas têm a mesma função: aquietar a mente, diminuir a velocidade dos pensamentos e permitir que nosso cérebro tenha tempo de se recompor.

Referências

1Revista Saúde https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/doencas-psiquiatricas-causariam-problemas-cardiovasculares/

2International Journal of Environmental Research and Public Health https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5580555/

3Mary Ann Liebert, Inc. Publishers https://www.liebertpub.com/doi/pdf/10.1089/act.2008.14608

4UCBerkeley News https://www.berkeley.edu/news/media/releases/2007/10/22_sleeploss.shtml

5University of Michigan https://experts.umich.edu/details/publication/368503?search_mode=content

6Carnegie Mellon University https://www.cmu.edu/news/stories/archives/2014/july/july2_mindfulnessmeditation.html

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