Abbott: algumas ideias básicas para começarmos - Como as infecções ativas podem afetar a glicose?

Kazemi: Imediatamente após o diagnóstico, as pessoas podem ter algum elemento de resistência à insulina que pode se manifestar como glicose alta observada em muitas infecções.

Então, isso é comum em muitos vírus, não é específico da Covid-19?

Correto.

E o que devemos saber sobre o papel dos vírus no diabetes tipo 1?

Um grande número de casos do tipo 1 ocorre na infância. Não todos, mas um grande número. Portanto, há essa hipótese de que ter uma predisposição genética traz à tona alguma forma de infecção viral que desencadeia a cascata de autoimunidade que resulta em diabetes tipo 1. Como qualquer um que tem filhos sabe, eles pegam muitas infecções virais. Então, seu sistema imunológico basicamente fica descontrolado, bombeando mais anticorpos que começam a atacar partes de si mesmo que não deveriam estar atacando.

Foi isso que os pesquisadores encontraram neste estudo?

Não exatamente. Lembre-se, eles não estão dizendo que a taxa de diagnóstico do tipo 1 é aumentada. Estão dizendo que a taxa de diagnóstico de diabetes em geral aumentou, o que torna isso um pouco complicado. Porque sabemos que para diabetes tipo 2, não temos nenhuma evidência clara de infecção viral antecedente causando isso.

Então há algum aumento no diabetes em geral, como você disse. De volta à nossa pesquisa que começou esta conversa: O que poderia explicar a conexão entre Covid-19 e diabetes?

Eles realmente recorrem à hipótese – que, para mim, é o cenário mais provável – de que, ao pegar a Covid, você prepara seu corpo para esse tipo de inflamação crônica.

Então é por isso que o "pós-30 dias" importa?

Sim. Há inflamação aguda da infecção viral real. Mas então, depois que você termina de combater a infecção viral aguda, parece haver essa baixa inflamação crônica dos sintomas da Covid. Vemos isso com disfunção autonômica, sintomas cardíacos etc. E talvez o diabetes faça parte disso.

Mas talvez não seja só isso?

É uma espécie de argumento entre galinha e ovo porque, nessas outras condições inflamatórias crônicas, as pessoas também são tratadas com medicamentos que definitivamente predispõem ao diabetes. Coisas como esteroides. Então é a droga real que você está dando ou é a inflamação real?

É difícil definir com tantos fatores. O que mais poderia estar em jogo?

As pessoas que correm maior risco de complicações da Covid – indivíduos mais velhos, com IMC (Índice de Massa Corpórea) mais alto, com outras comorbidades – também são pessoas que tendemos considerar terem um risco maior de diabetes. Mas parece haver a capacidade de a infecção por Covid exacerbar uma tendência pré-existente ao diabetes.

Infelizmente, quando você adiciona a Covid à equação, isso pode ser a gota d’água, se preferir.  Mais uma vez, podemos dizer isso definitivamente? Não. Mas essa poderia ser uma hipótese muito razoável.

Então, o que eu deveria fazer?

A mensagem, clinicamente, é que, se você estiver em alto risco de complicações da Covid, fique atento também ao diabetes.

E eu posso falar com meu médico sobre isso? Isso pode mudar o atendimento que recebo?

Certamente. Do ponto de vista da atenção primária – três anos atrás, antes da pandemia – se você trouxesse um cenário em que você tivesse pulso rápido em alguém que acabou de ter uma infecção viral, o diferencial usual poderia ser uma miocardite, uma pericardite, algo diretamente ligado a uma área de infecção viral.

Agora, três anos depois, algo que nem estaria nessa lista no top 20 provavelmente está no top 5, algo chamado POTS (Postural Orthostatic Tachycardia Syndrome), que era uma condição médica muito obscura vista apenas por reumatologistas em certas condições médicas muito raras. De repente, é comum em todos os lugares por causa da Covid.

Portanto, você deve ter em mente certas coisas pós-Covid que normalmente não pensaria necessariamente em outras infecções. Como se alguém chegasse com um resfriado, eu estaria preocupado em triá-lo para diabetes daqui a dois meses? Não. Ou se eles chegassem mesmo com a gripe, eu estaria preocupado em triá-los para diabetes daqui a dois meses? Não.

Mas agora eu sei que se alguém chega com Covid e eles estão com alguns sintomas que podem ser sugestivos, eu provavelmente deveria pensar em diabetes.

Mas isso depois de um diagnóstico, que pode ajudar você a saber se você contraiu a Covid-19.

E se, após a Covid, eu for diagnosticado com diabetes?

A Abbott pode ajudar. Se você vive com diabetes, temos tecnologias de detecção – como o sistema FreeStyle Libre – e produtos nutricionais para ajudá-lo a gerenciar sua condição.

Última coisa: para onde vamos a partir daqui?

Lembre-se, para esse estudo, muitas dessas pessoas foram infectadas antes da vacinação. Então, esse risco de diabetes ainda é verdade? Ou ter uma vacina realmente ajuda a chegar ao ponto em que você tem uma resposta imune tão significativa?

É definitivamente uma pergunta desafiadora. Vamos continuar avaliando o que acontece.