Os requisitos para doação de sangue

Doação de sangue|Feb.26, 2024

ATUALIZADO POR MAGALI BALLOTI

Doar sangue é uma atitude cidadã geradora de cura e vida. Antes de programar-se para uma doação, porém, é preciso conhecer os requisitos para esta boa ação.

Você deve ter algum amigo que já fez campanha para doação de sangue, por ocasião do tratamento de algum parente que precisava de transfusão. Doar sangue nesses momentos é sempre uma atitude louvável. Mas já pensou em ser um doador constante e colaborar para que nunca falte sangue para quem necessita? Por isso, é preciso saber quais são os requisitos para fazer a doação de sangue e saber se você está em condições de contribuir.

Antes de cada doação, o candidato passa por uma entrevista para coleta de informações sobre viagens recentes, hábitos e questões de saúde. São feitas algumas perguntas de cunho íntimo, que podem até intimidar pessoas mais reservadas. De qualquer forma, não se preocupe: nos centros de doação o sigilo vem sempre em primeiro lugar. O que não se pode fazer nunca é mentir nas respostas, pois isso colocaria em risco a saúde já debilitada de alguém.

A intenção das perguntas é principalmente avaliar o risco de contaminação. Mas nem todas as perguntas e requisitos estão ligados somente ao risco da contaminação. Por exemplo, peso é um elemento importante para se calcular o volume de sangue que será retirado, que deve ter uma correta proporção entre o sangue doado e o anticoagulante que está presente na bolsa de armazenamento. 

A quantidade de sangue retirada não afeta a sua saúde porque a recuperação é imediatamente após a doação. Uma pessoa adulta tem em média cinco litros de sangue e em uma doação podem ser coletados no máximo 450 ml de sangue.1

Ao mesmo tempo, o volume máximo admitido por doação é de 450 ml ± 45 ml, aos quais podem ser acrescidos até 30 ml para a realização dos exames laboratoriais exigidos pelas leis e normas técnicas2 cada bolsa deve conter no mínimo 450 ml para que o anticoagulante aja corretamente. Isso explica por que pessoas com menos de 50 kg não podem doar. Não tem relação com risco de anemia ou desmaio, como alguns acreditam.

Uma questão que sempre gera dúvidas é quanto ao histórico de doenças do doador. Além do HIV, a hepatite é a patologia mais lembrada. Existem vários tipos de hepatite viral (hepatite A, hepatite B, hepatite C, hepatite D, hepatite E). O tipo A é o mais comum e não impede a doação de sangue. Acredita-se que quase 100% das pessoas que tiveram hepatite antes dos 10 anos foram contaminadas pelo tipo A. Portanto, quem teve hepatite antes dos anos 10 anos provavelmente pode doar sangue. Já em casos de hepatite B ou C, a doação é impedida.

Tanto o HIV quanto a hepatite B são doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, todo hemocentro exclui candidatos a doação que tenham comportamento de risco: múltiplos parceiros sexuais em período recente e o uso de drogas injetáveis.

Cirurgias, tatuagens, viagens e vacinas

Cirurgias e procedimentos médicos e odontológicos também precisam ser avaliados na hora da doação. O período de resguardo varia de acordo com o tipo de intervenção e vai de uma semana (após uma extração de dentes) até um ano (após uma cirurgia de grande porte). Mesmo quem faz acupuntura precisa informar na hora de doar. Porém, se o procedimento foi feito com laser ou material descartável e a última sessão ocorreu até um dia antes, a doação está liberada.

É preciso também prestar atenção a tatuagens, maquiagem definitiva e piercings,3 pois há risco de contaminação por meio das agulhas e, por isso, quem passou por esses procedimentos deve esperar um ano antes de doar. Porém, caso o piercing tenha sido colocado na área genital ou nas mucosas (como os lábios), a doação não poderá ser realizada. É preciso retirar o acessório e esperar mais um ano para doar sangue.

As vacinas também merecem atenção especial. Algumas permitem que a doação de sangue seja efetuada 48 horas após a aplicação, como aquelas feitas com vírus e bactérias mortos (caso da vacina contra o tétano). Já outras, como febre amarela, poliomielite oral (Sabin), febre tifoide oral, caxumba, sarampo, BGC (Bacillus Calmette-Guérin), rubéola, catapora e varíola, pedem um intervalo de quatro semanas. Antibióticos também devem ser lembrados: a doação pode acontecer somente 15 dias depois do término de um tratamento.4

Diante do início da vacinação contra Covid-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou Nota Técnica 12/2021 para orientar os serviços de hemoterapia e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) sobre os prazos de inaptidão temporária para doação de sangue de candidatos vacinados. Por precaução, as pessoas que receberam uma das vacinas contra o vírus Sars-CoV-2 com autorização para uso emergencial aprovada pela Anvisa ou que tenham registro sanitário no Brasil5 devem considerar um adiamento da doação por até sete dias após a vacinação.”

A proibição de doação para quem fez viagens para determinadas regiões do mundo é ligada à presença de epidemias. A principal preocupação é com a malária, presente em alguns estados brasileiros (Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins) e também em alguns países da África, da Ásia e da América Latina, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Nos postos de doação, há informações sobre todos os lugares impeditivos. Se você esteve em um deles, precisa esperar 30 dias, mesmo prazo para quem viajou aos Estados Unidos.6

Existem condições temporárias nos requisitos como resfriados, conjuntivites, herpes labial e diarreias, que bastam estar curadas para que se libere a doação. No geral, uma pessoa com a saúde em dia, alimentada (nada de ir doar em jejum!) e disposta a ajudar alguém pode doar sangue. Quaisquer dúvidas sobre outras exigências podem ser esclarecidas nos próprios postos de doação.

Não pode doar sangue quem

  • é portador de vírus HIV, das hepatites B e C, dos vírus HTLV (vírus T-linfotrópico humano) I e II e da doença de Chagas;
  • usa drogas ilícitas injetáveis;
  • já teve malária;
  • recebeu enxerto de dura-máter (membrana que envolve o cérebro e a medula espinhal);
  • teve algum tipo de câncer, incluindo leucemia;
  • tem graves problemas no pulmão, coração, rins ou fígado;
  • tem problema de coagulação de sangue;
  • tem diabetes com complicações vasculares e/ou insulinodependente;
  • teve tuberculose extrapulmonar, elefantíase, hanseníase, leishmaniose visceral ou brucelose;
  • foi submetido a gastrectomia total (remoção de todo o estômago e linfonodos próximos, podendo incluir, ainda, a remoção do baço e partes do esôfago, intestino, pâncreas e outros órgãos adjacentes), pneumectomia (retirada de um pulmão), esplenectomia (remoção cirúrgica, completa ou parcial, do baço) não decorrente de trauma, transplante de órgãos ou de medula.

Todas as condições são descritas na Portaria nº 158, de 4 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde.7 Clique aqui para acessar. E, se quiser saber mais sobre a legislação brasileira a respeito de doação de sangue, acesse o site do Ministério da Saúde.

Este texto foi originalmente publicado em 07/05/2018, atualizado em 01/03/2021 e em 26/02/2024.

Referências

1Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde – Doação de Sangue. Acessado em janeiro/24. Disponível em Doação de sangue | Biblioteca Virtual em Saúde MS (saude.gov.br)
2 PRT MS/GM 158/2016, Art. 51, Parágrafo Único)
3Blog da Saúde - Ministério da Saúde http://www.blog.saude.gov.br/index.php/servicos/52695-tire-suas-duvidas-sobre-a-doacao-de-sangue
4Pró-Sangue – Hemocentro de São Paulo http://prosangue.sp.gov.br/duvidas/default.html
5ONU Brasil https://brasil.un.org/pt-br/103324-oms-pede-acao-revigorada-para-combater-malaria
6Fundação Homocentro de Brasília http://www.fhb.df.gov.br/doacao-de-sangue/
7Ministério da Saúde – Sangue – Legislação. Acessado em janeiro/2024. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0158_04_02_2016.html

 

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